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Disturbios Relacionados aos DES

Desreguladores Endócrinos e Seus Efeitos

Atualmente são liberados no ambiente toneladas de poluentes químicos resultado do crescente avanço industrial ao redor do mundo. Grande parte dessas substâncias além de poluírem o ambiente possuem ação sobre organismos aquáticos, invertebrados, mamíferos e humanos podendo levar ao desenvolvimento de distúrbios metabólicos diversos.

Efeitos tóxicos ao sistema reprodutor

  Os primeiros efeitos tóxicos relacionados com a exposição a determinadas classes de poluentes ambientais foram os relacionados ao sistema reprodutor. O estrogênio sintético DES (dietilstilbestrol) utilizado por mulheres com problemas de manutenção de gravidez foi relacionado ao aumento de casos de infertilidade e casos de câncer de mama e vaginal nas mães e filhas gestadas sobre o uso deste medicamento. Para o TBT (tributilestanho), poluente de ambiente aquático, sua primeira ação desreguladora endócrina foi descrita em moluscos através do fenômeno descrito como impossex onde caracteres secundários sexuais masculinos aparecem em indivíduos femininos levando a prejuízo da reprodução e até mesmo podendo contribuir para erradicação de algumas espécies. Sua ação molecular relacionada ao impossex foi relacionada a ação inibidora sobre a enzima aromatese, conversora de testosterona em estrogênio. Os plastificantes, BPA e ftalatos, também são relacionados na literatura como associados a problemas reprodutivos como redução da contagem e motilidade de espermatozóides, alteração de ciclo reprodutivo em fêmeas e desregulação dos hormônios sexuais em ambos os sexos.

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Espermatozóides fecundando um óvulo.

Fronte: David M. Phillips

O Efeito Obesogênico

  Um efeito metabólico bem documentado para muitos dos desreguladores endócrinos conhecidos é o obesogênico. Em 2002, o aumento do número de obesos/sobrepeso ao redor do mundo nos últimos anos acompanhado do crescente lançamento de produtos/subprodutos industriais na atmosfera sugeriu fortemente uma associação entre esses dois fatores. Estudos posteriores confirmaram esta relação para os ftalatos, BPA, tributilestanho e os agentes retardantes de chama onde esses poluentes ambientais em modelos experimentais com animais, cultura de células ou mesmo levantamentos epidemiológicos e foram associados ao aumento no ganho de massa corporal, dos depósitos de gordura, da captação de triglicerídeos pelos adipócitos e aumento na expressão de genes relacionados ao metabolismo lipídico.

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  A obesidade é considerada uma doença crônica não transmissível caracterizada pelo acúmulo de tecido adiposo corporal, principalmente na região abdominal e por um estado pró-inflamatório de baixo a moderado grau. Muitas vezes a obesidade é relacionada a outras desordens endócrino-metabólicas como a resistência à insulina, o diabetes tipo 2, aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos, hipertensão e alterações em hormônios como leptina, adiponectina e hormônios tireoideanos. Todas essas alterações metabólicas já foram associadas à exposição aos poluentes ambientais acima citados assim como também para a exposição à nicotina (principal componente bioativo do cigarro) tanto em adultos como em crianças e reproduzidos em inúmeros modelos experimentais.

Neurotoxicidade

  Outra importante ação metabólica relacionada aos poluentes ambientais ocorre sobre o sistema nervoso. Agentes retardantes de chama já foram descritos com capacidade neurotóxica. Diferentes classes de agrotóxicos apresentam ação sobre o sistema nervoso central por atuarem sobre a degradação do neurotransmissor acetilcolina influenciando assim na transmissão do impulso nervoso em diferentes regiões cerebrais. A nicotina, e consequentemente o tabagismo, é descrita também como uma desregulador do sistema nervoso. Estudos em modelos experimentais demonstram que seu consumo em adolescentes predispõe ao uso de álcool. A ação neuronal da nicotina ocorre por intermédio de sua ligação com receptores colinérgicos nicotínicos (nAchR) presentes nas junções neuromusculares e no sistema nervoso central (SNC) resultando no aumento da liberação de vários neurotransmissores como por exemplo, a dopamina agindo em regiões relacionadas com o sistema de recompensa e prazer entre outros efeitos prejudiciais às funções cerebrais.

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Fonte: Imagem modificada de "Nervous system diagram," por Medium69. 

Sistema nervoso

Considerações Finais

  A exemplificação dos efeitos metabólicos descritos para algumas classes de desreguladores endócrinos demonstram o potencial que essas substâncias não somente poluiem o ambiente mas, também podem afetar diferentes funções fisiológicas que podem comprometer a qualidade de vida do indivíduo e predispor ao desenvolvimento de doenças.

Referências:

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