.png)

A História Por Trás dos Desreguladores Endócrinos
Banhistas são pulverizados com DDT com uma nova máquina de distribuição de inseticida testada pela primeira vez em Long Island, Nova York, Júlio 8, 1945. Fonte: Bettmmann/Corbis
Rachel Carson: A pioneira
O livro “Primavera Silenciosa” que publicado em 1962 por Rachel Carson é considerado até hoje um marco dos movimentos ambientalista ao redor do mundo. Na cidade de Springdale (Utah, EUA), Carson percebeu as consequências do avanço tecnológico e industrial norte-americano no período pós 2ª GM onde havia uma ampla distribuição de fábricas no seu condado que lançavam seus resíduos no ambiente. Na mesma época o amplo uso do pesticida DDT, pertencente à classe dos organoclorados, a partir de 1945 no controle da malária e na agropecuária, também foi alvo de observação da autora. Carson observou na sua cidade a relação do uso em larga escala do DDT com a redução no número de aves da região assim como do seu comportamento natural, como padrão de canto e fertilidade. Assim ela iniciou um movimento de alerta na comunidade local e até mesmo do governo sobre o uso indiscriminado de determinadas substâncias químicas lançadas no ambiente sem o total conhecimento sobre seus efeitos sobre o ambiente e os seres vivos em longo prazo.
Rachel Carson (1907–1964)
Fonte: Biography


O Termo Desreguladores Endócrinos

Na década de 90 surge o termo desreguladores endócrinos, na Conferência de Wingspread (EUA) em 1991, que reuniu especialistas de diferentes áreas para nomear substâncias que interferirem no sistema endócrino e causam efeitos adversos à saúde. O tema deste encontro resultou na publicação do livro “Nosso Futuro Roubado” de 1996 pelos autores Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myer.
O livro faz uma crítica ao perigo que as próximas gerações sofrem com a ampla produção industrial de agentes químicos e seus potenciais efeitos sobre o sistema endócrino, imune e reprodutivo tanto de animais silvestres como de seres humanos. Um dos casos exemplificados pelos autores é o de visons (Mustela vison) na região Centro-oeste dos EUA. Foi observado um declínio da taxa reprodutiva desses mamíferos e uma associação foi estabelecida entre este fenômeno e a alimentação desses animais com resíduos de frangos. Os frangos utilizados para alimentação haviam sido submetido a administração do estrogênio sintético dietilstilbestrol (DES) para acelerar sua taxa de crescimento. Outro caso descrito foi observado no Lago Apokpa (Flórida) onde foi descrito um importante declínio do sucesso reprodutivo das fêmeas de jacaré. Os efeitos descritos ocorreram após um vazamento acidental de agrotóxico (dicofol) da Companhia Química Tower localizada próxima ao lago e perduraram mesmo após a confirmação da limpeza do lago. Entre humanos dados apontam uma redução do número de espermatozoides e aumento da taxa de anormalidades genitais como a criptorquidia em distintas populações ao redor do mundo e uma hipótese sugerida para tal efeito seria possivelmente fatores ambientais.

Theo Colborn (1927–2014)
Fonte: Kvnf
Desreguladores Endócrinos e Efeitos metabólicos
Assim, abriu-se um novo campo de pesquisa na área dos desreguladores endócrinos: seus efeitos metabólicos e relacionados ao desenvolvimento da obesidade e desordens metabólicas associadas como diabetes e hipertensão. Essa vertente ganhou respaldo no trabalho de Baillie-Hamilton de 2002 pioneiro em estabelecer uma estreita relação entre os índices de industrialização e produção de químicos sintéticos nos EUA com o crescente aumento do sobrepeso em adultos durante o século XX.

Paula Baillie-Hamilton
Fonte: Ecologist
Referências:

-
Amato CD, et al. DDT: Toxicidade e contaminação ambiental – uma revisão. Quimica Nova, 25(6): 995-1002, 2002.
-
Baillie-Hamilton PF. Chemical toxins: a hypothesis to explain the global obesity epidemic. The Journal of Alternative and Complementary Medicine 8(2): 185-192, 2002.
-
Carson R. Primavera Silenciosa (1962). Ed. Gaia, 2010.
-
Colborn T, et al. Nosso Futuro Roubado. Ed. L&PM, 1996.
-
Diamanti-Kandarakis E, et al. Endocrine Reviews 30: 293-342, 2009.
-
Environmental Protection Agency - EPA. Special Report on Environmental Endocrine Disruption: An Effects Assessment and Analisys,U.S., Report No. EPA/630/R-96/012, Washington D. C, 1997.
-
Grün F & Blumberg B. Molecular and Cellular Endocrinology 304(1-2): 19-9, 2009.
-
Newbold RR, et al. Reproductive Toxicology 23(3): 290-296, 2007.
-
Newbold RR. Impact of environmental endocrine disrupting chemicals on the development of obesity. Hormones 9(3): 206-217, 2010.