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Retardantes de Chama
O Que são Retardantes de Chama?
Os agentes retardantes de chama (FRs) são compostos sintéticos adicionados a uma grande variedade de materiais aos quais somos expostos constantemente, como mobílias, televisões, computadores, máquinas de lavar, revestimentos de pisos e paredes, espuma de isolamento para construções e até nos modais de transporte. Esses agentes possuem a ação de retardar a ignição, diminuir a velocidade de queima e minimizar a emissão de fumaça desses materiais aos quais são incorporados.

Estrutura química genérica da Bifenila Polibromada (PBB)
Apesar do uso desses compostos ter aumentado com o aumento do consumo de materiais poliméricos (devido à alta inflamabilidade), há registros de utilização por volta de 450 a.C, por egípcios que usavam alume (sulfato duplo de potássio e alumínio) para diminuir o potencial inflamável da madeira. Atualmente existem mais de 175 produtos químicos classificados como retardantes de chama, divididos em grupos de acordo com sua composição química.
Eles Fazem Mal à Minha Saúde?
Muitos FRs são usados como aditivos químicos em produtos, ou seja, não são quimicamente ligados aos polímeros constituintes, o que aumenta a liberação desses componentes no ambiente com o tempo. Os éteres difenílicos polibromados (PBDEs) são retardantes de chama halogenados (presença do bromo ou cloro) que foram amplamente usados em produtos domésticos e industriais. Devido à longa persistência desses agentes no meio ambiente, elevado potencial de bioacumulação e provável toxicidade, estudos foram iniciados para investigar seus efeitos em pessoas e animais. Um trabalho realizado na década de 90 demonstrou que a exposição ao PBDE em roedores, peixes e aves provocou uma desregulação endócrina, levando à redução dos hormônios tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), sintetizados na tireoide. Por esses retardadores apresentarem uma estrutura química similar à destes hormônios, eles podem atuar competindo pela ligação aos transportadores, diminuindo a circulação desses hormônios e, devido ao mesmo motivo, interrompem a sinalização do estrogênio. Outro estudo mostrou que os PBDEs possuem afinidade aos lipídios, levando ao acúmulo desses agentes no tecido adiposo.

Outros retardantes bromados (BFRs) e de outros grupos como os organofosforados (PFRs) passaram a ser utilizados como substitutos aos PDBEs, porém, estudos posteriores também demonstraram efeitos negativos desses novos químicos. O tetrabromobisfenol A (TBBPA), aplicado principalmente em resina epóxi utilizada para produção de placas de circuito impresso, é um agente bromado análogo ao desregulador endócrino bem caracterizado, bisfenol A (BPA). Estudos com esse composto, que é um dos mais usados mundialmente, demonstraram que assim como o PBDE, leva à diminuição dos níveis de T4, interferindo com a regulação tireoidiana. Inicialmente, acreditava-se que o uso do TBBPA não era prejudicial, baseado na estimativa da sua curta meia-vida em mamíferos, e no risco extrapolado de exposição humana e toxicidade ser considerado baixo. Contradizendo essas estimativas, existem diversos relatórios mostrando que o TBBPA é liberado para o ambiente em casos de polimerização incompleta e trabalhos relatando a presença do agente no meio e em amostras de tecido humano. Concentrações elevadas desse retardante também foram encontradas em baleias, golfinhos e tubarões, sugerindo uma biodisponibilidade significativa desse químico. Além de tudo, o TBBPA também pode ser encontrado no sangue (maiores níveis em técnicos de computador, devido à exposição) e leite materno. Também é responsável por causar efeitos neurocomportamentais em testes com roedores e afetar genes envolvidos no controle de peso corporal e metabolismo lipídico.
Diferentemente dos agentes apresentados, o fosfato de trifenila (TPHP) é um retardante de chamas organofosforado e apesar de não apresentar bromo, seus impactos negativos são similares ou piores do que os causados pelo PBDE. Assim como os anteriores, peixes expostos a esse químico tiveram alteração evidente dos níveis de hormônios tireoidianos. Entre as mulheres canadenses nas quais foram realizados estudos, níveis elevados de contato foram associados ao aumento da prevalência de hipotireoidismo, onde essa condição, juntamente com a de hipertireoidismo, estão correlacionadas com o desenvolvimento de vários tipos de câncer, incluindo o de tireoide, sugerindo que os retardantes que desregulam a homeostase desses hormônios de maneira significativa podem contribuir para o risco e severidade de câncer.
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Mas Como Eu Evito o Contato?
Por serem aditivos misturados aos materiais e não quimicamente ligados, os PBDEs podem ser liberados com a ação do tempo, contaminando a poeira acumulada sobre objetos e o material particulado atmosférico, tanto em ambientes abertos quanto confinados, sendo levados por diversas rotas ambientais à acumular na biota. As vias de exposição humana ao PBDE são pela inalação, ingestão e contato dérmico e dentre os riscos dessa exposição estão interferência endócrina, alterações imunológicas, hepatotóxicas e neurotóxicas, aumento da incidência de câncer, dificuldade na fala e de memória.

Devido às propriedades dessas substâncias, que geram um potencial de bioacumulação e biomagnificação, o PBDE foi inserido na lista de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) pela Convenção de Estocolmo em 2009. Porém, apenas alguns congêneres de PBDEs foram incluídos, uma das três misturas comerciais mais utilizadas, a deca-BDE, não se encontra na lista. Após constantes evidências dos males causados pelo PBDE, ele passou a ser amplamente restringido e até banido em alguns países a partir da primeira década dos anos 2000. São inexistentes quaisquer tipos de ações voltadas ao controle da produção, importação, exportação e uso destas substâncias no Brasil somando-se ao fato de que grandes quantidades de bens de consumo duráveis contendo PBDE (mobílias, equipamentos eletrônicos, equipamentos automobilísticos, etc.) se encontram descartadas em lixões ou sendo recicladas, ambas ações que contribuem para a liberação desse composto nas vias ambientais.
Como os polímeros estão presentes nos mais variados produtos hoje em dia, os agentes retardantes de chama também estão. Existem algumas precauções que podem ser tomadas para evitar a contaminação por esses agentes, dentre elas:
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Lavar as mãos antes de comer;
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Não estofar móveis ou substituir carpetes por conta própria;
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Fazer o correto descarte de acolchoamento danificado;
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Procurar pela indicação de “livre de retardantes de chama” no rótulo de produtos, como na imagem abaixo.
Referências:

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BESZTERDA, M. et al., "Endocrine disruptor compounds in environment: As a danger for children health." Pediatric Endocrinology Diabetes and Metabolism, vol. 24, no. 2, 2018.
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Decherf, S. et al., Disruption of thyroid hormone-dependent hypothalamic set-points by environmental contaminants. Molecular and Cellular Endocrinology, 323(2), 172–182, 2010.
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HOFFMAN, K. et al. “Do flame retardant chemicals increase the risk for thyroid dysregulation and cancer?.” Current opinion in oncology vol. 29,1 (2017): 7-13.
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HOPPE, A.A. et al., Polybrominated diphenyl ethers as endocrine disruptors of adipocyte metabolism. Obesity. 15. 2942–50, 2007.
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Vojta, Š. et al., Changes in Flame Retardant and Legacy Contaminant Concentrations in Indoor Air during Building Construction, Furnishing, and Use. Environmental Science & Technology. 51(20):11891-11899, Oct. 2017.
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PIERONI, M.C. et al., Retardantes de chama bromados: uma revisão. Quím. Nova [online] vol.40, n.3, pp.317-326, 2017.